Pistas com tecnologia wireless poderão suprir energia para os carros elétricos, mesmo com os veículos em movimento. Projetos com esse propósito estão em desenvolvimento por montadoras como a Stellantis, grupo global que reúne marcas como FIAT, Jeep e Chrysler, e empresas como a Electreon – e podem tornar uma viagem com carro elétrico até mais confiável do que uma viagem em veículos com motor à combustão.
“Essa é uma tecnologia disruptiva capaz de virar o jogo no caminho para a transição energética e o decorrente abandono dos combustíveis fósseis”, avalia Arie Halpern, especialista em tecnologias disruptivas. Autonomia, escassez de pontos de recarga e o tempo para “encher a bateria” formam um trinômio que provoca ceticismo quanto ao avanço acelerado da eletrificação da frota de veículos leves e pesados na maior parte do planeta. Por isso, desenvolver estradas especialmente equipadas com transferência de energia sem fio dinâmica (DWPT – Dynamic Wireless Power Transfer) é uma ambição tecnológica que faz todo o sentido.
Com pequenas variações entre as propostas em teste, o sistema DWPT consiste em uma sequência de bobinas instaladas sob o asfalto que, constantemente, emitem um campo eletromagnético que é captado pelos veículos que trafegam sobre elas. Nos carros, essa forma de energia é convertida em eletricidade por um receptor projetado com esse propósito. Dessa forma, a infraestrutura rodoviária pode alimentar o motor elétrico, conservando a carga e até carregando a bateria, ampliando a autonomia do veículo.
A Stellantis construiu uma pista de testes circular onde rodou um de seus modelos com motorização elétrica. Segundo a montadora, o veículo pode trafegar em velocidades médias típicas de rodovias sem consumir a energia da bateria. Os testes também mostraram que a eficiência do fluxo de energia do asfalto para o carro é comparável à eficiência das estações de carregamento rápido.
Essa eletricidade é “aditivada”
Há uma particularidade no projeto da Stellantis para solucionar problemas que outras iniciativas enfrentam: o sistema de alimentação das bobinas instaladas na pista de testes – chamada de Arena del Futuro – é alimentado com corrente contínua (DC), ao contrário de outros projetos que empregaram corrente alternada (AC).
Dessa forma, afirma a montadora, houve redução da perda de potência na distribuição de energia para todas as bobinas do circuito. Além disso, a opção por corrente contínua permite o uso de cabos de alumínio mais finos e mais fáceis de obter e reciclar, com metade dos custos do cobre.
Por fim, utilizar corrente contínua vai integrar diretamente os projetos DWPT com fontes de energia limpa e renovável, como sistemas fotovoltaicos (energia solar) que produzem eletricidade em DC. Ou seja, as estradas nesse modelo não precisarão dos equipamentos chamados de inversores, cuja finalidade é converter corrente contínua em corrente alternada.