Uma demanda da transição energética, a eletrificação das frotas de veículos leves e pesados passa por desafios de logística e desenvolvimento tecnológico. Testes recentes de uma companhia norte-americana mostraram que uma nova tecnologia para baterias deve vencer a barreira da baixa autonomia dos carros elétricos que, nos modelos atuais, é de pouco mais de 300 quilômetros.
Propondo uma nova composição – química e física – para o dispositivo que estão desenvolvendo, os pesquisadores da One (Our Next Energy) estão batendo sucessivos recordes de distância percorrida com uma única carga. O último feito? Manter um Tesla EV modelo S (sedan) rodando desde a manhã até o anoitecer, por 1.200 quilômetros, sem parar para recarregar.
Durante o percurso, foi mantida a velocidade média de 90 Km/h, partindo da cidade de Detroit e percorrendo diferentes tipos de estrada da região norte do estado de Michigan, para voltar ao ponto de partida. Ou seja, partindo com a bateria carregada por completo, seria possível sair de São Paulo, passar o fim de semana passeando no Rio de Janeiro, e voltar. Já pensou?
“Impor metas e direcionar recursos e esforços contínuos é um dos passos para atingir avanços disruptivos como esse. Nesse caso, quebrar os próprios recordes é um meio interessante de manter-se inovando”, avalia Arie Halpern, especialista em tecnologias disruptivas.
Bateria nota dez!
Os pesquisadores da One estabeleceram um ciclo de desenvolvimento de tecnologia própria que, entre outros feitos, mira a sustentabilidade. Além dos resultados de desempenho, essa linha de baterias para veículos leves não contém níquel. Metal pesado, o níquel demanda cuidados maiores para o descarte, devido aos potenciais danos à saúde humana e ao meio ambiente, devido à toxidade.
A bateria é montada com dois núcleos formados por compostos diferentes de lítio. Em comparação com outros modelos de padrão semelhante, afirmam os pesquisadores, foi possível usar 60% menos grafite e 20% menos lítio.
Quando a bateria está carregada por completo, o núcleo de fosfato de lítio é o responsável por fazer o carro rodar pelos primeiros 240 quilômetros. Daí em diante, a energia é provida pelo núcleo de óxido de manganês de lítio.
Novas possibilidades
Além de quebrar a barreira da baixa autonomia (principal fator que afasta os consumidores dos carros elétricos), esse tipo de aprimoramento pode contribuir para a formação da infraestrutura necessária para o futuro dos carros elétricos.
Com uma menor demanda por recargas ao longo das viagens, será possível ter mais tempo para construir um número maior de pontos de recarga em estradas e centros urbanos, tornando os investimentos viáveis.
Também ganham destaque as tecnologias de carregamento sem fio, com estradas preparadas para transferir energia para os veículos em movimento. Os primeiros testes com a tecnologia DWPT – Dynamic Wireless Power Transfer alcançaram resultados promissores.
Ou seja, é possível chegar ao ponto em que não será tão urgente ampliar em escala o número de pontos de recarga, o que possibilitará alocar recursos para construção das “estradas eletrificadas”.
Esse conjunto de fatores é decisivo para que a frota mundial de veículos elétricos atinja a marca de 230 milhões de unidades até 2030, feito necessário para alcançar as metas de redução dos gases do efeito estufa e sustentabilidade das Nações Unidas.